A Guerra dos Gibis
Adolfo Aizen e Roberto Marinho, principais personagens desta história, são os maiores responsáveis pela chegada ao Brasil de uma novidade americana que a partir dos anos 30 se tornou uma febre entre as crianças e adolescentes e mobilizou presidentes da República, juristas, parlamentares, intelectuais, educadores, escritores, magnatas e artistas: as histórias em quadrinhos.
Embora fizessem a festa da garotada e editores como Aizem e Marinho, os gibis causavam arrepios nos guardiões da moral, polemistas de plantão, tubarões da imprensa e raposas da política, que em coro pediam censura urgente às revistinhas [...]
Grandes figuras da vida nacional entre 1933 e 1964 se engajaram na heróica guerra dos gibis. Do Suplemento Infantil de Adolfo Aizen aos catecismos de Carlos Zéfiro, Gonçalo Junior narra uma aventura repleta de absurdo e ferocidade, feita de heróis e vilões de papel e de carne e osso.
Embora fizessem a festa da garotada e editores como Aizem e Marinho, os gibis causavam arrepios nos guardiões da moral, polemistas de plantão, tubarões da imprensa e raposas da política, que em coro pediam censura urgente às revistinhas [...]
Grandes figuras da vida nacional entre 1933 e 1964 se engajaram na heróica guerra dos gibis. Do Suplemento Infantil de Adolfo Aizen aos catecismos de Carlos Zéfiro, Gonçalo Junior narra uma aventura repleta de absurdo e ferocidade, feita de heróis e vilões de papel e de carne e osso.
Nem o
cinema, nem o rádio, nem a TV. O “alvo da mais intensa campanha jamais lançada
contra nenhuma outra forma de comunicação no Brasil” foram as histórias em
quadrinhos. Essa é a tese do livro A Guerra dos Gibisw, lançado ontem pela companhia
das letras e fruto de uma década de pesquisa do jornalista baiano Gonçalo
Júnior, 37. Ao longo de mais de 400 páginas, o autor resgata não só a
turbulenta história das HQs no país, acusadas pela igreja e por notórios
formadores de opinião da metade do século 20 nde “subliteratura infantil “ mais
também os bastidores de algumas das principais disputas de poder na imprensa
brasileira.
“A guerra
contra os quadrinhos ocupava as manchetes policiais e a primeira página dos
jornais. Os gibis eram mais criticados que os nosso contemporâneos videogames”
defende o autor, que entre os inimigos das revistinhas aponta Cecília Meireles,
Ary Barboso e o crítico de cinema francês Georges Sadoul. Entre os partidários,
Gilberto Freyre, Jorge Amado e Nelson Rodrigues, que, no início da carreira
chegou a adaptar obras da literatura ao formato.
No entanto,
no livro os personagens principais da paleja são : Adolfo Aizen, criador do
Suplemento Juvenil ( 1934 ) e fundador de uma das mais importantes editoras de
HQs entre as décadas de 40 e 60, a Ebal; Roberto Marinho, que após deixar
passar a sugestão de Aizen para que implantasse os suplementos em O Globo
Juveil ; o proprietário dos Diários Associados, Assis, que inaugurou as
revistinhas em quatros cores O Gury ( 1940 ) e finalmente Victor Civita, para
quem Pato Donald ( 1950 ) foi o marco zero de sua editora Abril.
Sucesso
entre as crianças os gibis – termo que virou sinônimo de HQs no Brasil devido a
revista Gibi lançada em 1939 por Marinho – alcançaram tiragens mensais de mais
de 100 mil exemplares. Tais marcas aumentaram sucessivamente até a década de
60, período em que o livro se encerra . Mas o sucesso comercial dos “quatro
cavaleiros “ não trouxe a mesma reputação para as HQs.
Sedução dos inocentes
Iniciados no
final da década de 30 por meio de publicações católicas e nacionalistas, que
viam nas histórias importadas dos EUA apologia ao crime, ao sexo e aos valores
da sociedade americana, os ataque sãos quatros principais editores de
quadrinhos no Brasil foram se intensificando até 1054, considerado por Gonçalo
como “ o mais difícil ano da história dos quadrinhos “.
Foi nesse
mesmo ano que o psicanalista americano Frederic Wertham lançou nos E.U.A o
livro Seduction of the Innocent ( Sedução dos Inocentes ) , em que se associava
o aumento do número de crimes cometidos por jovens no E.U.A a leitura das HQs.
“ Tivemos um
comportamento muito parecido com o dos americanos em relação aos quadrinhos.
Fogueiras de gibis se espalharam por todos os dois países”, conta Gonçalo. Mas
faz uma ressalva. Por trás da cruzada moralista, escondia-se outro interesse :
minar o poder político crescente dos que publicavam HQs no Brasil, em especial,
o de Roberto Marinho.
No livro
Gonçalo aponta pelo menos duas grandes guerras envolvendo o diretor de O Globo
e seus desafetos públicos. Ambas envolviam os proprietários de seus principais
concorrentes na imprensa carioca : Orlando Dantas, de O Diário de Notícias , e
Samuel Wainer, de Última Hora. Primeiro
em 1948, com Dantas, depois em 1953, com Wainer, o autor aponta como as
primeiras páginas dos jornais envolvidos se tornaram palco de uma disputa
política e econômica camuflada.
Ainda, à
suposta gentileza de Adolfo Aizen para com os detratores dos quadrinhos, a quem
o empresário costumava oferecer almoços e frisar suas iniciativas de
quadrinizar histórias da bíblia e de heróis nacionais, Gonçalo acrescenta um
dado até agora desconhecido: Aizen que tinha uma identidade falsa de baiano
nasceu na Rússia e pela lei de comunicações vigentes até 2002, estrangeiros não
podiam ter participação em publicações. O relativo silêncio , portanto, foi
amaneira de evitar uma devassa em sua vida pessoale os conseqüentes problemas
com a lei.
A Guerra dos
Gibis cobra ainda sucessivas tentativas de censura oficial aos quadrinhos
estrangeiros que, em alguns casos, foram apoiadas pelos próprios artistas
nacionais. “É tragicômico observar que os nossos artistas usavam a censura aos
comics americanos, com argumento de desnacionalização , para garantir reserva
de mercado. É fácil culpar os americanos que, com seus implacáveis sindicatos,
roubam nosso espaço”, critica o jornalista.
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