quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Caricaturas no Brasil primeiros tempos.

Caricaturas no Brasil primeiros tempos.
A primeira caricatura brasileira

O Barão de Santo Ângelo, Manuel de Araújo Porto Alegre, é considerado o primeiro caricaturista brasileiro, por um desenho de 1837 atribuído a ele. Esse aparecimento relativamente tardio da caricatura na nossa história é revelador da demora da demora que a imprensa levou a chegar até nós, apesar de Gutenberg ter sido quase contemporâneo da descoberta do Brasil. Embora no período colonial o Brasil tenha sido privado da imprensa por determinação real, a caricatura já se manifestava de outras formas como expressão do povo nas festas no carnaval, de bumba meu boi, na malhação do Judas, e através de bonecos e fantasias que satirizavam pessoas e costumes da época.
A primeira publicação humorística especializada no país foi semana ilustrada que apareceu ainda mias tarde, em 1860 . Em 1870 foi lançada a Revista Illustrada, de Angelo Agostini. Seguiram – se então muitas outras publicações, entre elas o Bazar Volante do francês Joseph Mil e Vida Fluminense. Estas revistas a maioria de curta duração surgiram aproveitando o clima da relativa liberdade tolerada do Segundo Império. Em 1869 apareceu O Mosquito onde mais tarde colaboraram Rafael Bordalo Pinheiro, que viveu no Brasil entre 1876 e 1879, já trazia experiência e fama como caricaturista em Portugal. Pedro Américo que retornava da Europa certamente contribuiu com espírito irreverente francês que caracterizou a caricatura na época.
O inicio do séc XX trouxe mais revistas : O Malho ( 1902 ), Kosmos ( 1904 ), Fon Fon, Careta ( 1908 ) e Revista da Semana. Essas revelações revelaram inumeros talentos, como Raul Paranhos, K Lixto, J.Carlos , Rian, Max Yantok e outros.
Em 1911 outro português , Vasco Lima publicou o Album de Caricturas, que mais tarde se tornou O Gato. Essa revista fez o sucesso pelas suas charges políticas e nela colaborou Seth.
Mestre Lan
O caricaturista e pesquisador Alvarus acrescenta como reverência a essa lista os nomes de Belmiro , Whidoph, Celso Herminio, Amaro Amaral, Ruben Gill, Néri, Olvaldo, Roamano, Vieira da Cunha, Madeira de feitas, Trinas Fox, Francisconi, Raul Gomes e Fritz. A revolução de 1930 e o Estado de Novo decretado em 1937, trouxeram como conseqüência severa, a censura da imprensa pelo governo federal, o que marcou um hiato no desenvolvimento da caricatura brasileira. Mesmo assim foi notável nessa época o humorismo do Brão de Itararé , ou Aporelly, com um texto satírico baseado no trocadilho e na ironia política, apoiado pelo cartunista André Guevara, paraguaio radicado no Brasil. Na década de 1940 como o retorno da democracia, revelou se uma nova geração de caricaturistas: Théo, Hilde, Tomas Santa Rosa, Augusto Rodrigues, Lan  em Luis Sá. Na revista o Cruzeiro apareceu Alceu Penna, Carlos Estevão, Péricles e Vão Gogo ( Millor Fernandes ). Os anos dourados de 1950 e os que vieram a seguir trouxeram Ziraldo, Borjalo, Juarez e Zélio, que passaram a figurar as páginas de O Cruzeiro e Manchete, Millor Fernandes, depois que deixou O Cruzeiro, fundou o Pif – Paf, revista humorística de curta duração.
Mestre Ziraldo

As transformações sociais e os eventos políticos dos anos 60 e 70 favorecem o surgimento em 69, de O Pasquim uma revista em formato de jornal de extraordinário sucesso e significação, dirigida pelo jornalista Tarso de Castro , onde pontificaram os cartunistas Jaguar, Reginaldo José , Claudius, além de Ziraldo, Zélio, Millor e tantos outros. Foi O Pasquim que lançou nacionalmente o mineiro Henfil. O Pasquim foi uma plataforma de sátira e irreverência, comentando a sociedade brasileira da atualidade. A despeito – ou por causa – do rígido controle da imprensa exercido no período de excenção dos anos 70. O Pasquim era tolerado pelo regime vigente, tornando-se  um conveniente válvula de escape para uma época de severa censura de opinião. O Pasquim na mesma linha irreverente e contestatória do National Lampoon norte amaricano , inspirou outras publicações alternativas à imprensa da época como Versus, editado por Marcos Faermann, Bondinho e Pato Macho.
A abertura democrática que se seguiu proporcionou espaços para os humoristas brasileiros em todas as formas de comunicação.
A caricatura encontrou sucesso também na edição sucessivas do Bar Brasil de Alex Solnik e Paulo Caruso que reúnem caricaturas em formas de HQs, originalmente publicadas pela revista Senhor. A maioria dos caricaturistas de sucesso tem publicado sua obra em forma de séries completas, material selecionado ou em antologias, tanto individualmente como em obras coletivas.
A caricatura em todas as suas formas, está presente e mais viva do que nunca em quase todos os jornais e revistas importantes do Brasil e é uma de suas formas de opinião mais importante .
Se por um lado a mídia impressa que está em crise faz com que o espaço disponível aos cartunistas se torne cada vez mais apertado principalmente fora do eixo Rio-São Paulo , o desenvolvimento da nossa caricatura tem sido intenso. A CARICATURA DO Brasil figura como uma das mais expressivas do mundo, o que pode ser avaliado pelo reconhecimento profissional e pelos inúmeros prêmios internacionais que os nossos artistas tem alcançado.
A história da caricatura no Brasil tem extensão o suficiente para um livro próprio. Oferece campo de pesquisa muito vasto, fértil e inesgotável na realidade ainda timidamente explorado. A síntese que apresentamos aqui pode ser considerada apenas como esboço de todo um universo, vivo em ebulição , do que foi e do que é a caricatura brasileira.
Um tributo especial precisa ser evocado , aqui, a autores que deram contribuições importante para o estudo e para a memória da caricatura brasileira. Herman Lima que publicou extenso material sobre a caricatura na forma de ensaio, artigos e livros principalmente o tratado mais importante e extenso que temos sobre a caricatura brasileira. Robens Gill legou-nos material riquíssimo do levantamento que fez sobre a vida dos principais profissionais da primeira metade deste século. Athos Damasceno  realizou e publicou estudos sobre a imprensa caricata no RS que são preciosos. Álvaro de Moya é estudioso de um aspecto muito atual do cartunismo as HQs . Nelson Werneck  Sodré publicou livros e artigos de incalculável significação sobre a história da nossa imprensa. A obra desses pesquisadores é fundamental para o estudo da caricatura brasileira.

Os pioneiros
A historia da caricatura brasileira está obviamente vinculada à história da imprensa brasileira que, por sua vez tem origens na história da imprensa em Portugal. Segundo Nelson Werneck Sodré em sua História da Imprensa Brasileira, na época do descobrimento do Brasil e durante o período de colônia, os livros em Portugal estavam sujeitos a três censuras, a episcopal , a da inquisição e a régia , que proibiam a impressão de qualquer obra “sem primeiro ser vista e examinada pelos desembargadores do Paço, depois de lida e aprovada pelos Oficiais do Santos Oficio da Inquisição “. Isso implicava em que a imprensa sob qualquer forma, era estritamente proibida no Brasil Colonial.
Foi somente no final do séc XVIII que começaram a aparecer no Brasil bibliotecas particulares todas elas clandestinas. As publicações entravam no país por contrabando, trazidas por marinheiros e comerciantes, estabelecendo-se um verdadeiro mercado negro das obras impressas.
Com a vinda para o Brasil da família real portuguesa e a abertura dos portos em 1808 é que se estabeleceu  aqui as primeiras oficinas gráficas. Começou a partir daí o desenvolvimento da impressão de livros e periódicos. Os jornais, no entanto eram apenas tolerados e quem se manifestava contra o governo sofria as sanções da censura e da perseguição.
Essa imprensa, ainda na sua infância, teve um papel de importância durante a campanha pela independência =. Já havia muitos jornais em circulação que no entanto não apresentava material ilustrativo. O clima de tolerância existente na campanha não se manteve por muito tempo. Quando da sua coroação em dezembro de 1822 , Dom Pedro I disponha de ilimitado poder. O efêmero liberalismo estava derrotado, e a direita dominava, culminando com a dissolução da assembléia constituinte. Tudo isso criou um clima insuportável para a livre expressão da imprensa.
Mesmo assim logo após a Proclamacão da Indepedencia ocorreu a vinda para o  Brasil de muitos franceses que aqui se radicaram e boa parte deles era constituída por livretos, tipógrafos e até mesmo jornalistas. As oficinas litográficas e tipográficas trazidas por esses imigrantes começaram a ser instaladas, dando impulso a imprensa e tonando – se profissional.
A partir de 1826, com a instalação da Assémbleia Legislativa e imprensa que reaparecia teve um impulso notável. Em 7 de abril de 1831, aconteceu abdicação de Dom Pedro I, começando com isso o período da regência. A imprensa teve, nesses acontecimentos influencia muito grande, principalmente a imprensa da esquerda.
Nesse período em que o Brasil experimentou um liberalismo quase republicano acontece a partir de 1831 a proliferação de pasquins, dezena deles, que se multiplicaram nos anos que se seguiram.
Nessa multiplicação de publicações apareceram também folhas satíricas humorísticas como O Escorpião, O Meteoro e O Pensador. A imprensa teve um papel relevante nas insurreições armadas que ocorreram durante a regência como a Revolução Farroupilha no RGS, e a Cabanagem , no Pará. Não se pode estudar a revolução gaúcha sem consultar, O Povo , O Mensageiro, O Americano , Estrela do Sul e outros.

A Guerra do Paraguai não teve no Brasil, em toda sua duração, uma boa imprensa. Ainda assim vale ressaltarem seu inicio o Diabo Coxo, folha ilustrada por Angelo Agostini em São Paulo, que criticava e satirizava com ironia os métodos de recrutamento.
Os jornais até então, não publicavam caricaturas, estas circulavam apenas com estampas avulsas, ainda de forma tosca e sem qualidade. As inovações técnicas, chegadas ao Brasil em meados do Séc XIX, permitiram o advento da gravura, e consequentemente da caricatura, na imprensa brasileira, causando considerável impulso assegurando novas condições a critica e ampliando sua influência. Nesse sentido o texto humorístico foi precursor da caricatura, que somente apareceu quando as técnicas da gravação permitiram conjugar as palavras com a atração visual do desenho de imagem.
A primeira caricatura brasileira
A primeira caricatura brasileira, atribuída a Manoel de Araujo Porto Alegre com data de 1837 apareceu como uma estampa avulsa. Segundo Francisco Rio pardense de Macedo, a  primeira matéria sobre a publicação foi exibida pelo jornal do comércio do Rio de Janeiro número de 277 de 14 de dezembro de 1837, que traz a noticia de que “saiu a luz o primeiro numero de uma nova intervenção artística, gravada sobre o magnífico papel representando uma admirável cena brasileira, e vendida pelo módico preço de 160 réis cada numero, na loja de livros e gravuras de Mongie, A Rua Do Ouvidor. A bela invenção de caricaturas tão apreciadas na Europa, apareceu hoje pela primeira vez  no nosso país e sem dúvida receberá o publico aqueles sinais de estima que ele tributa as coisas úteis, necessárias e agradáveis.
A caricatura mais propriamente a charge, tratava de uma critica as propinas recebidas por um funcionário do governo relativas ao Correio Oficial. Esta estampa, bem como uma segunda aparecida no seguinte, retratavam o criticado e não tinha assinatura. É curioso notar que Manuel Araújo Porto Alegre que era ligado ao governo e tinha sido nomeado professo Imperial Academia de Belas Artes nesse mesmo ano, fazia com estas caricaturas, críticas ao oficialismo do qual participava.
Em 1840 a folha teatral Sganarelo aparecia com caricaturas. Porém foi lanterna Mágica, que circulo no Rio De Janeiro entre 1844 e 1845, com o subtítulo de periódico Plástico Filosofico que assinalou de forma sistemática, o inicio das publicações ilustradas com caricaturas impressas. Circulava aos domingos era impresso com luxo e sua assinatura custava dois mil réis por trimestre. Seu produtor era o próprio Manuel do Araújo, tendo Lopes Cabral como desenhista e Rafael Mendes como o pintor. A marmota Fluminense, continuadora de Marmota também publicou de maneira sistemática gravuras litografadas em Paris.
O aparecimento da caricatura a passou  a dar a imprensa recursos de enorme amplitude e anunciava uma mudança que iria fustigar o processo político. Era um época de grandes mudanças marcadas pela extinção do tráfico negreiro ( lei de 1850 ), pela Guerra do Paraguai e pela consolidação do Império.
Manuel de Araujo Porto Alegre
Manuel de Araújo Porto Alegre Nasceu em José do Rio Pardo, Rio Grande do Sul em 29 de novembro de 1806. De origem pobre desde cedo apresentou vocação para pintura. Pintou quando jovem painéis e cenários para teatro. Aos 16 anos estava trabalhando como aprendiz de relojoeiro.
Recrutado para o serviço militar , foi para o Rio de Janeiro em fins de 1826. Em 1827 matriculou – se na aula de Jean Baptista Debret de quem se tornou amigo e aluno predileto freqüentando as aulas de arquitetura e escultura. Ao mesmo tempo cursava os primeiros anos da Escola Militar estudava filosofia e tomava lições de anatomia no Hospital de Santa Casa .
Em 1831 partiu para a Europa em companhia de Debret auxiliando por Evaristo de Velga, José Bonifácio e outros amigos influentes. Fixou –se em Paris onde foi aluno do Barão de Gros , por recomendações de Debret onde se destacou nas aulas de anatomia, certamente devido a experiência que trazia do Brasil. Seus estudos na Europa estiveram sempre na dependência de magros recursos vindos da generosidade alheia até que a assembléia Legislativa lhe fixou em 1835 uma pensão de 600 mil réis com que viveu até 1837. Isso permitiu que conhecesse a Itália onde permaneceu dois anos estudando em Roma. Percorreu também várias outras cidades da Itália e visitou a Bélgica e a Inglaterra.
Voltou ao Brasil em 1837. Foi nomeado professor e depois diretor da Academia Imperial de Belas Artes que foi reformada por ele. Fundou também o Conservatório Dramático. Em 1840 foi nomeado Pintor da Câmera de Dom Pedro II.
Em 1844 lançou Lanterna Mágica de sua propriedade e redação com a colaboração de seu discípulo Rafael Mendes de Carvalho, cujas produções nesse periódico – o primeiro a inserir caricaturas, sistematicamente no Brasil  - revelam -  no também como caricaturista. A revista, que durou até o numero 23, em 1845  dedicava – se as letras, as artes plásticas à critica e à polêmica.
Além da publicação de Lanterna Mágica, Porto Alegre teve ainda um papel de apreciável na divulgação da caricatura no Brasil,  pois publicou outros trabalhos no gênero em pranchas avulsas.
O talento de Manuel de Araujo Porto Alegre foi direcionado para muitos interesses, entre eles  a ciência a literatura, o teatro  e a pintura. Fez projetos de arquiteturas para vários prédios do governo inclusive o palácio imperial, o edifício do Banco do Brasil e a Casa Imperial de Petrópolis . Tornou –se professor de desenho da Escola Militar e um dos precursores da critica de arte do Brasil. Foi ainda um reconhecimento pintor de retratos cenas históricas e paisagens.
Em 1863  voltou pela segunda vez para a Europa exercendo o cargo de cônsul geral do Brasil na Prússia e em Portugal quando recebeu o titulo de Barão de Santo Ângelo .
Manoel de Araujo Porto Alegre, também vereador e escritor produziu ainda obras de poesia épica, teatro cômico e dramático , bem como operas. Morreu em 1879.
Rafael Mendes do Carvalho
O pintor catarinense discípulo e colaborador de Porto Alegre, Rafael Mendes do Carvalho era proveniente de Laguna, Santa Catarina e ao que se sabe chegou ao Rio de Janeiro em fins de 1839.
No inicio de 1840 fez uma série de litografias sobre costumes fluminenses publicadas pela oficina gráfica de Frederico Guilherme Briggs. Foi discípulo de Porto Alegre auxiliando o em muitos projetos oficiais de decoração. Matriculou –se na Imperial Acdemia de Belas Artes em 1842, dedicando –se ao retrato. Rafael Mendes de Carvalho foi o principal colaborador de Porto Alegre no lançamento de Lanterna Mágica tendo sido seu caricaturista até o encerramento da revista .
Esteve em Buenos Aires, desempenhando uma curiosa e difícil missão, a de neutralizar, na região do Prata , por meio de charges contra o inimigo, a campanha ridicularizadora que, pelo mesmo meio, os seguidores do ditador argentino Rosas estavam fazendo contra Urquiza e o Brasil.
Trabalhou em Gualeguaychu e em Entre Rios,  no interior da Argentina onde ganhou algum dinheiro fazendo pelo menos dois retratos de Urquiza. Também esteve no Uruguai, desenhando caricaturas.
Briggs
Frederico Guilherme Briggs nasceu no Rio de Janeiro, em 1817. Foi um dos primeiros alunos da Academia Imperial de Belas Artes onde aprendeu a arte litográfica . Viajou depois da Inglaterra, onde imprimiu um álbum com desenhos do Rio de Janeiro onde desenhava e imprimia letras, faturas, circulares, preços-correntes , bilhetes, música, etiquetas para botica, vinhetas e desenhos,como também produzia litografias de maior significação artística , inclusive caricaturas sobre tipos de cenas de costumes da époc. Fez também inúmeras pinturas e litografias, tendo como tema os panoramas da cidade. Morreu na segunda metade do Século XIX.
Angelo Agostini
Em  1854 a Ilustração Brasileira , de que ao que se sabe  circularam apaenas nove números, já havia publicado em seu número inaugural, uma página de caricaturas, provavelmente de autoria de Francisco Moreau. No mesmo ano, tinha também aparecido com caricaturas a publicação bilíngüe L´Íride Italiana. Em 1855 apareceu Brasil Ilustrado, desenhos humorísticos de Sebastien Auguste Sisson. Essa inclusão de caricaturas, no entanto era ainda apenas adicional.
O homem que realmente revolucionaria o gênero com a publicação regular sistemática da caricatura seria o italiano Angelo Agostini, que chegou ao Brasil em maio de 1859 vindo de Paris onde estivera estudando pintura. Seus primeiros três meses foram no Rio de Janeiro, dirigindo-se depois para São Paulo. Precursor da fotografia na capital paulista, então pequena cidade com cerca de 20 mil habitantes, ali chegou, no dizer de Monteiro Lobato “ com muita coragem no ânimo e uma pedra litográfica  sob o braço “.
Angelo Agostini nasceu em Vercelli, Piemonte na Itália  em 8 de abril de 1843. Passou a infância e a adolescência em Paris. Quando para o Brasil trouxe a família.
Em São Paulo, fundou o Diabo Coxo e trabalhou em O Cabrião . O Diabo Coxo era uma floha ilustrada onde agostini tinha como sócios Luís Gama e Sizenando Nabuco, contando ainda com a colaboração ativa de Américo e Bernardino de Campos . Começou a circular em primeiro de outubro em formato e pequeno. Com quatro páginas e, de inicio era parcamente ilustrado. A revista viveu pouco mais de um ano com interrupções, revelando – o estilo inconfundível de Angelo Agostini. Nele p extraordinário artista firmou suas posições libertárias e anti – clericaisque devem ter contribuído para fazer gorar o empreendimento. Por motivo das aberturas financeiras foi impossível mantê-lo , e a publicação deixou de circular em 24 de novembro de 1865.
O Cabrião apareceu uma ano depois , começando circular aos domingos em primeiro de outubro de 1866. Nele Agostini tinha os mesmos companheiros.
Angelo Agostini era dono de um estilo pessoal, muito diferente e superior ao de seus contemporâneos e concorreu com suas charges para muita agitação na capital paulista. Trasferiu-se para o Rio de Janeiro, por motivos de perseguições e vinganças resultantes de suas caricaturas. No Rio colaborou em O Arlequim e Vida Fluminense. Fundo e manteve,de 1876 a 1891 a Revista Ilustrada publicação de desenho humorístico de grande prestigio e popularidade durante duas décadas. Nesse veículo, como nos anteriores   
      
    

   

Caricaturistas mostram visão ácida sobre a vida política brasileira no teatro

Caricaturistas mostram visão ácida sobre a vida política brasileira no teatro

Em espetáculo com banda, os irmãos Paulo e Chico Caruso passam a limpo os últimos 30 anos de governo democrático

CARLOS BRITO
Rio - No dia 15 de janeiro de 1985, os irmãos Paulo e Chico Caruso se permitiam experimentar um sentimento que, pelo menos em tese, é bem conhecido dos brasileiros: esperança. E, não por acaso — após 21 anos de ditadura militar, Tancredo Neves se transformava no primeiro presidente eleito —, ainda que de forma indireta, via colégio eleitoral — de um novo período democrático para o país. Porém, como se sabe, apenas três meses e seis dias depois, ele morreu.



Sessenta caricaturas feitas pelos gêmeos — 30 por cada um deles — formam parte da apresentação, que é complementada por canções críticas aos presidentes
Foto:  Divulgação

“E pior: o Sarney assumiu. O resto da história é conhecida. Mas tento enxergar pelo lado bom: quando ele sentou na cadeira da presidência, tive a certeza de que nunca mais ficaríamos desempregados. E não ficamos. As três décadas seguintes garantiram nossos empregos”, relembra Chico Caruso, bem-humorado. Foi para fazer uma revisão de tudo o que aconteceu na política nacional nesses últimos 30 anos que os irmãos se reuniram no show ‘Que País é Este?’, que estará amanhã, sábado e domingo no Teatro Solar Botafogo. 
O espetáculo se desenvolve sobre dois pilares principais: a exposição de sessenta caricaturas feitas por cada um dos gêmeos e as canções escritas para o show. Ambos se unem para fazer uma análise bastante cáustica da história política recente do Brasil.
“Somos caricaturistas. Resumindo bastante nosso trabalho, diria que nossa função é capturar a realidade e reproduzi-la em nossas obras com um olhar crítico. O que impressiona no Brasil, no entanto, é o fato de percebermos como a realidade política daqui é bem mais impressionante que qualquer coisa que conseguimos transportar para o papel”, analisa Paulo.
Como já fizeram em apresentações anteriores, os irmãos Caruso sobem ao palco para apresentar canções cujas letras são tão ácidas quanto suas ilustrações. E os dois estão bem acompanhados: o também caricaturista Aroeira (chargista do DIA) assume o saxofone, Pablo Pessanha se apresenta com músicas e performances corporais, Kiko Chaves cuida do violão de sete cordas, Sergio Magalhães fica com a flauta, Papito comanda o contrabaixo, Cláudia Barcellos o violino, Nelson Pagani dita o ritmo na bateria e o próprio Paulo Caruso fica responsável pelo piano.
“Temos mais de 100 canções escritas. Poderíamos fazer um show de muitas horas apenas com nossas composições. No entanto, optamos por montar um repertório menor, com 15 peças”, explica Paulo, lembrando que parte das canções são adaptações de clássicos do jazz.
E em cada uma delas é possível encontrar pedradas críticas para todos os ocupantes do Palácio do Planalto desde a redemocratização: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
“Cada um dos presidentes possui várias particularidades, tanto pessoais quanto políticas. E são elas que chamam nossa atenção e nos inspiram na hora de criar. O que fazemos, com as caricaturas e também com as músicas, é usar o humor para poder criticá-los”, finaliza Chico.

História do Brasil pode ser contada através da Caricatura

História do Brasil pode ser contada através da Caricatura
O nome “caricatura” foi utilizado pela primeira vez em 1646, para nomear uma série de desenhos satíricos do italiano Agostino Carracci que retratava tipos populares de Bolonha, na Itália. A caricatura é a representação gráfica de uma pessoa, animal ou coisa, de uma cena, exagerando certos aspectos, com intuito satirizar ou de criticar.
O primeiro caricaturista do Brasil, Manuel de Araújo Porto Alegre, publicou a primeira caricatura, anonimamente, no Jornal do Comércio, em 14 de dezembro de 1837. Ele fez uma sátira do jornalista Justiniano José da Rocha, seu inimigo.
Angelo Agostini também foi um dos primeiros caricaturistas. Italiano, radicado no Brasil, publicou seu primeiro trabalho, na “Revista Ilustrada”, intitulada, mais tarde, por Joaquim Nabuco de “Bíblia da Abolição dos que não sabem ler”. Agostini colaborou muito com a história da Imprensa do país.
Além das caricaturas de Dom Pedro II, outros políticos, também bastante explorados pelos caricaturistas foram: Campos Sales, exposto por sua vaidade, Artur Bernardes, sempre apresentado como ditador e Getúlio Vargas, por sua esperteza. De estatura baixa, este aspecto físico, era bastante explorado.
Os comerciantes portugueses eram personagens preferidos dos caricaturistas. Eram representados como aqueles que roubavam no peso das mercadorias, misturavam água no leite e areia na massa do pão.
A caricatura serviu para propagar grandes acontecimentos, denunciar a corrupção no país e acompanhou toda a trajetória do cenário político como a transformação da Monarquia em República no século XIX. Depois desse período de instabilidade, surgiram novas revistas: “Semana Ilustrada” e as Revistas de humor: “Careta” e “Fon fon”.



Caricaturistas Brasileiros 1836-2001, de Pedro Corrêa do Lago
caricaturistas-brasileirosEm mais de 200 páginas, o grande livro Caricaturistas Brasileiros, de Pedro Corrêa do Lago, reúne os 40 principais nomes do país entre 1836 e 2001. Na introdução, o autor fala da história da caricatura e sobre a metodologia de escolha dos artistas. Em uma passagem discute o uso dos diferentes termos para caricatura, e sua definição. O seguinte trecho é interessante:

“A abrangência do termo “caricatura” é difícil de definir e vale citar Cássio Loredano, profundo conhecedor do tema, que talvez tenha mais bem explicado a questão ao escrever: ‘Nada é muito preciso. Charge e caricatura são a mesma palavra: carga; mas quando numa redação brasileira se diz charge, em geral se está pensando na sátira gráfica a uma situação política, cultural, etc. estritamente atual; caricatura é geralmente sinônimo de portrait-charge; e cartum vale para o comentário satírico duma situação independente de atualidade.‘

Os irmãos Paulo e Chico Caruso

Já Chico Caruso tem uma explicação empírica mais espacial: uma cena de horizonte amplo seria um cartum. centrada numa situação ou em personagens definidos seria uma charge, e focada exclusivamente numa pessoa, uma caricatura. Mas ‘caricatura’ é ainda o termo genérico que se aplica no Brasil ao desenho de humor em geral.”


Entre os artistas  estão Henrique Fleiuss, J. Carlos,  Cardoso Ayres, Millôr, Ziraldo, Henfil e Angeli, fechando o livro. De duas a dezoito páginas (para J. Carlos) para cada artista, são mais de 300 imagens, acompanhadas de um bom texto histórico e por vezes crítico. Uma “curiosidade” que descobri com o livro: Walt Disney pode ter se inspirado em desenho de J. Carlos para criar o Zé Carioca.